quinta-feira, 28 de abril de 2011

Reportagem Publicada - Mustafá e a Arena




Mustafá muito polêmico e odiado por muito palestrinos concedeu entrevista ao Globoesporte.com . Apesar de tudo concordo em algumas partes com ele, como o fato de a WTorre lucrar em cima de nossa Arena por 30 anos (muitos palmeirenses nunca verão nosso estádio 'livre'). Segundo estatísticas após 5 anos da construção concluída a empresa já terá lucros (ainda terá 25 anos faturando), Mustafá quer refazer o contrato para que esse domínio diminua para 15 anos. A questão é complexa e por isso todos deveriam ler a reportagem completa:




Mustafá Contursi reprova Arena Palestra: 'Tomara que pare a obra'

Influente no Palmeiras, ex-presidente discorda de construção do estádio nos moldes feitos pela WTorre. Para ele, houve má fé da gestão de Belluzzo

Por Diego Ribeiro e Juliano CostaSão Paulo
Mustafá Contursi, ex-presidente do Palmeiras (Foto: Diego Ribeiro / Globoesporte.com)Mustafá Contursi, ex-presidente do Palmeiras e crítico
da Arena (Foto: Diego Ribeiro / Globoesporte.com)
Crítico ferrenho da construção da Arena Palestra nos moldes propostos pela WTorre – com anuência da diretoria anterior, comandada por Luiz Gonzaga Belluzzo -, o ex-presidente do Palmeiras Mustafá Contursi sugere que as obras sejam paralisadas imediatamente. Ainda com enorme influência dentro do clube, o ex-presidente quer a revisão de vários pontos do contrato firmado com a WTorre. E diz que, caso a empresa não concorde, a saída pode ser judicial – mesmo que, para isso, “a comunidade palmeirense” tenha de arcar com os custos da reforma de um estádio que, hoje, está quase todo no chão.

Pelo contrato, a WTorre se compromete a bancar todo o investimento na Arena, orçada em R$ 300 milhões, mas fica com parte de todos os lucros gerados – renda de jogos, eventos, shows, venda de cadeiras, camarotes, etc. – por 30 anos. Mustafá quer reduzir isso pela metade. Nos cálculos do ex-presidente, a WTorre já vai recuperar todo o investimento em cinco anos.

Para Mustafá, a empresa e a antiga diretoria do clube agiram de “má fé” ao pressionar conselheiros e sócios a votarem pela aprovação do contrato. Mais de 80% se posicionaram a favor. Mustafá credita isso a uma “gigantesca estratégia de marketing”, criada para explorar o anseio da torcida em ter um estádio moderno “a qualquer custo.” Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, Mustafá defendeu seus pontos de vista.

Que pontos o senhor gostaria que fossem revistos no contrato?
Primeiro o prazo. Outra questão é aquele desastre todo dentro do clube. O cronograma não foi respeitado, é um absurdo, só isso já era suficiente para desqualificar a empresa. Primeiro deveriam mexer nas áreas sociais para depois iniciar a demolição.

Mas o cronograma foi afetado por fatores alheios à vontade da empresa. Foram pelo menos dois anos para conseguir a liberação da Prefeitura.
E como você vai confiar numa empresa que não sabe que a Prefeitura demora dois anos para liberar uma planta? Ela demora oito meses para liberar a planta de uma casa! (A WTorre) propõe um cronograma desses, engana 15 milhões de torcedores e agora quer bater na gente. Estão fazendo chantagem, mas não vamos nos acovardar em busca dos nossos direitos e convicções. Tudo está voltado para a ameaça. Vamos parar a obra? Ótimo! Tomara que pare a obra! Como não sabiam que demoravam dois anos e meio para aprovar um projeto?
 
Quando o cronograma foi apresentado, ninguém questionou isso?
Mandamos para todos os associados um documento para o debate. Queríamos debater. Não houve debate. Na minha opinião, 80% dos conselheiros que aprovaram não tiveram conhecimento de cronograma, nada disso. Houve uma publicidade que levou a mensagem dizendo que era a modernidade, o futuro, que tínhamos de lutar por isso. Era a manifestação geral. Não estávamos contra, mas faltou o debate. Hoje o clube gasta milhares de reais para ter atividades fora do clube. Perdemos associados a cada mês. De janeiro para cá está acontecendo isso, são quase 3 mil a menos. Caiu de 13.160 para 10.830 em três meses.

O senhor acha que houve má fé da empresa? Da diretoria anterior?
De 80% daqueles que aprovaram, não

E dos que apresentaram o projeto?
Sim, sem dúvida nenhuma.
Não vamos nos acovardar em busca dos nossos direitos e convicções. Vamos parar a obra? Ótimo! Tomara que pare a obra!"
Mustafá Contursi
Mas má fé da empresa ou da diretoria que comandou o negócio?
Acho que houve cumplicidade. Se os debates se estendessem, a relação de acordo não seria da forma como interessava para a empresa. Aquela ansiedade de ter um estádio moderno, ter Copa do Mundo... Tudo isso que está feito para ter dois jogos de Copa do Mundo não vale o risco.

Mas o presidente Belluzzo sempre falou que não era para ter Copa. O projeto para 45 mil lugares não previa isso...
Com 45 mil daria para ter. Os publicitários formadores de imagem falaram inclusive que iam trazer a Itália para jogar aqui.

Para treinar, não?
Não, jogar.

Não, senhor. Nunca falaram em jogos de Copa. A ideia era trazer a Itália para treinar no novo estádio.
Que seja.

É diferente.
Treinar é no Centro de Treinamento, está bom, não tem importância. Mas ouvi muitas vezes que teria jogo da Itália. Bem, isso é insignificante. Enfim, quem assinou não agiu levianamente, mas agiu sobre o impacto da ansiedade de ter uma nova arena. Achavam que não podiam dizer não.

Foi tudo precipitado, então?
Claro, por isso pedimos o debate. Provei em uma reunião que em cinco anos a empresa recupera o investimento. Em 15 anos seria um contrato muito interessante, que era o nosso projeto inicial.

De qualquer forma, o projeto foi votado e passou. O senhor foi voto vencido. 
Houve etapas não cumpridas. Sou intransigente na defesa dos interesses do clube. Há um dispositivo no Código Civil que diz que você pode contestar acordos em que há desequilíbrio entre as partes. Temos de lutar para melhorar a relação do Palmeiras, ou com essa empresa, ou com outra que vier...
OBRAS NO PALESTRA ITÁLIA (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)Obras de demolição do antigo Palestra Itália estão em andamento (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
O senhor falava em construir a Arena, mas não conseguiu e recebe muitas críticas por isso. Desde os anos 90 há essa expectativa em torno do novo estádio.
Foi por isso que houve aquela ansiedade que eu disse. Reconheço a responsabilidade que nós tivemos, mas já tínhamos começado o prédio de camarotes (do lado direito das cabines de TV, perto das piscinas). Era só demolir o restaurante e abrir os 149 camarotes, o dinheiro estava lá. O plano estava sendo seguido. Não estou comparando gestões. Não aconteceu? Paciência. Mas não é por isso que vai acontecer da pior maneira para o clube.

O presidente Arnaldo Tirone o consulta antes de decisões sobre a Arena?
Tenho colaborado pontualmente, como colaboraria em qualquer gestão. Minha manifestação é dentro do COF (Conselho de Orientação e Fiscalização). O Tirone anda muito ocupado, por todos os problemas que o Palmeiras está enfrentando.

O senhor acha que as obras podem mesmo ser paralisadas?
Paralisar a obra não, porque aí o Palmeiras teria de tomar providências para finalizar isso de outra forma.

Mas no início da entrevista o senhor disse: “Tomara que pare a obra”.
Se for decisão deles, tomara que pare e vamos discutir. O Palmeiras não vai parar, vai procurar seus interesses, com eles (WTorre), ou com outros, ou com a própria força.

Se fosse para a Justiça, a empresa estaria muito bem respaldada, não? Afinal, está tudo assinado pelo Palmeiras.

Mas eles não estão cumprindo com vários pontos daquilo que foi assinado. E fantasiam muito. Eles falam que o Palmeiras deixaria de gastar R$ 9 milhões por ano nos jogos, mas provei no Conselho Deliberativo que são R$ 3 milhões.
OBRAS NO PALESTRA ITÁLIA (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)Palestra Itália será palco da Arena Palestra, reprovada por Mustafá (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
O senhor tem dito que a WTorre poderia recuperar em cinco anos todo o investimento feito na Arena (R$ 300 milhões) e o que viesse depois seria lucro para eles (por 25 anos). Como chegou a esse cálculo?
Veja, nos cinco primeiros anos de cessão, o Palmeiras receberia 5% dos direitos de todo o faturamento da Arena. Em números redondos, seriam R$ 15 milhões. Para que o Palmeiras receba pelos 5% esse valor, quanto seria esses 95%?

R$ 285 milhões...
Isso, e esse número foi produzido por eles (Mustafá apresenta um prospecto feito pela própria empresa, mostrando o quanto o novo estádio renderia por ano). São números deles. O Palmeiras também receberia 20% sobre locações para jogos, shows, restaurante, lanchonete, academia, eventos... Nos primeiros cinco anos, 20% totalizam R$ 19 milhões. A WTorre receberia 80%, quatro vezes esse valor.

Por volta de R$ 76 milhões...
Sim. Some isso aos R$ 285 milhões e dá R$ 361 milhões. Ou seja, em cinco anos eles já pagaram o estádio.

Mas é um investimento da empresa, que está entrando com um dinheiro que o clube não tem para construir algo que o clube sempre quis. Natural que a empresa vá querer a contrapartida o mais rápido possível e o lucro por mais tempo, não? O Palmeiras concordou. O contrato está assinado.
Sim, não estou discutindo o que eles fizeram, mas sim o que o Palmeiras fez. O que levou a fazer um negócio desses aí? A empresa não iria achar ruim, claro. Mas estou falando do equilíbrio entre as partes. São R$ 361 milhões em cinco anos para eles. E a gente?

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